Escola no Ponto: EEEF Leopolda Barnewitz

Na sexta, dia 24 de março o Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre recebeu os estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental Leopolda Barnewitz para uma sessão de filmes e exposição dos quadros de Paulo Montiel no Salão da Comuna do Arvoredo. A turma de geografia do nono ano foi recebida pela presidenta da cooperativa Temis Nicolaidis que contou um pouco sobre a Catarse, o Ponto de Cultura e a obra de Paulo Montiel, artista plástico que foi residente do ponto até sua morte em 2019 e deixou um legado de pinturas a óleo dos Orixás (divindades africanas das regiões da Nigéria, Benin). Depois de apreciar a obra do artista e assistir alguns trechos do documentário Descobrindo Montiel, a turma também assistiu o filme Dilúvio – Riacho que a cidade esqueceu. Justamente pelo fato de a escola estar localizada na Cidade Baixa, na rua João Alfredo – antiga rua da Margem do Arroio Dilúvio – Giulia Sichelero estagiária de licenciatura junto da escola, propos e organizou a atividade junto da escola.

“Vamos lutar até o fim” Quilombo Kédi pela permanência

No bairro Boa Vista, zona nobre de Porto Alegre, o Quilombo Kédi busca o direito de permanecer no território ancestral que há séculos tem sido seu lar. A comunidade, remanescente de um antiga bairro de africanos e descendentes, hoje é um dos poucos focos – junto com o Quilombo da Família Silva, primeiro Quilombo urbano titulado no Brasil – de resistência negra em uma região engolida pelas grandes construtoras. Na noite desta quinta feira (15/12) o quilombo travou mais uma batalha para manter seu território. A comunidade foi convidada pela prefeitura para conhecer o projeto de reassentamento proposto pela incorporadora CFL depois que uma decisão judicial ordenou o reassentamento da comunidade. A Kédi compareceu em peso, junto com apoiadores da causa quilombola, lotando o espaço da Escola Estadual de Ensino Fundamental Bahia. O Secretário Municipal de Habitação e Regularização Fundiária André Machado apresentou a proposta da incorporadora: um terreno na Avenida Baltazar, na periferia da cidade próximo ao limite com a cidade de Alvorada, no qual a CFL construiria um condomínio fechado para 52 famílias. O público presente não conseguiu conter o riso, que tomou conta do auditório quando foram mostradas as imagens do projeto de habitação prometido pela empresa: uma réplica do modelo dos condomínios de elite, porém com casas menores. Quem não tivesse interesse na moradia prometida teria direito a um valor cerca de cem mil reais. A comunidade se manifestou contra as propostas, reforçando a vontade de ficar no território e demandou investimento em infraestrutura na próprio local “porque o dinheiro não é aplicado na comunidade?”, questionaram. Os moradores da Kédi reforçaram a qualidade de vida que tem no local, onde não há violência e as crianças brincam na rua tranquilamente, e defenderam o direito de seguir vivendo no espaço que seus avós e bisavós construíram. Diante das manifestações a favor do Quilombo (de conselheiros municipais, do Conselho Estadual de Diretos Humanos, das Vereadoras Karen Santos e Reginete Bispo, da Frente Quilombola), que reforçaram o direito ao território garantido pela constituição, o prefeito Sebastião Melo se comprometeu a buscar uma solução junto ao Ministério Público sem remover a comunidade: “Não estou aqui para tirar ninguém de lá. Estou aqui para abrir uma discussão. O Ministério Público pra mim tem fé pública, ele já disse que vamos resolver, então nós vamos resolver”.

Retomada Gãh Ré luta para ficar no território

Diante da reintegração de posse determinada pela juiza Clarides Hahmeier, os indígenas da Retomada Multiétnica Gãh Ré, em Porto Alegre no Sul do Brasil, reafirmam a luta em defesa do território. A Kuja Kaingang Gã Teh, liderança político espiritual à frente da retomada, faz um apelo para que as autoridades reconheçam o direto ao espaço dos povos que estão sendo roubados a 500 anos. O local é alvo de um empreendimento de condomínio de edifícios da Maisonnave Companhia de Participações, que pediu a reintegração de posse. A empresa que quer retirar os indígenas foi dona de um banco que faliu na década de 80; além disso, coleciona também acusações de fraude, ligações com a ditadura militar, especulação e conflitos com os povos Kaingang e Guarani. Mesmo com os ataques do poder econômico e judiciário, os povos originários seguem determinados a lutar em defesa do território tradicional que vinha sendo ocupado por seus ancestrais milênios antes da invasão. “Caso tirarem esse espaço de nós, eu sairei no caixão”, conclui Gã Teh.

Curtas do Dilúvio no Quilombo do Areal

No fim de tarde da última terça, dia 29, a equipe do Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre realizou um cinedebate na comunidade do Quilombo do Areal com apoio do Sindbancários. Além da exibição dos curtas “Dilúvio – riacho que a cidade esqueceu” e “Tainhas no Dilúvio” o evento teve também a apresentação musical do Serestas da Ilhota. Embalado por músicas autorais e serestas, entre as quais algumas de Lupicínio Rodriguês, o evento rememorou os tempos da antiga Ilhota, nos quais as comunidades e a cidade como um todo se relacionavam de outras maneiras com o Arroio Dilúvio. Aliás, as imagens antigas do arroio e o registro histórico, presentes no documentário “Dilúvio – riacho que a cidade esqueceu” instigaram os mais velhos a compartilhar suas vivências e lembranças. “Estive na grande enchente de 1941, lembro que a água chegou no telhado das casas e tivemos que ser resgatados pela Brigada Militar” relatou uma senhora que assitia o filme da varanda da sua casa junto com a família. Por fim, última atração da noite, o curta de ficção Tainhas no Dilúvio trouxe um clima de leveza com sua ironia e momentos satíricos. Os deboches às relações das empreiteiras com os veículos de mídia corporativa – e o constante lobby contra a natureza – levaram o público às gargalhadas.

Encontro Coral Território Audiovisual

De 14 a 20 de novembro, comunicadores que usam o audiovisual para defesa de território estiveram reunidos em Paraty/RJ. Convocado pela Witness – ONG que defende o direito de filmar – o encontro foi o primeiro a reunir os participantes brasileiros da rede Coral – Coletivos Reunidos da América Latina. Em paralelo e traçando conexões, companheiras e companheiros de outros territórios latinoamericanos se reuniram na Cidade do México. A semana de trabalho foi intensa, com diversas atividades de formação, aprofundamento de capacidades, compartilhamento de saberes e vídeos produzidos nos diferentes territórios. E, de fato, o evento conseguiu reunir representar um pouco da diversidade territórial Brasileira, com participação de grupos do norte do Amazonas, fronteira com a Venezuela, até grupos do Rio Grande do Sul, vizinhos do Uruguai e Argentina. Além das atividades teóricas e práticas, realizadas no Silo Cultural (Ponto de Cultura local de Paraty) foram realizadas saídas em grupo para as praias do Sono e da Trindade, nas quais os grupos acompanharam as atividades de pesca artesanal dos grupos Caiçaras que vivem na região. Ponto culminante de um processo híbrido de formação de formadores em gestação desde 2021, o encontro conseguiu juntar diversos coletivos do país na missão de tecer uma rede independente. Diversas sementes foram plantadas, reforçando a necessidade entre os coletivos de mais encontros e espaços de fortalecimentos dos diversos territórios participantes da articulação. Porém, seguiu o desafio de integrar o grupo de coletivos brasileiros aos companheiros do restante de Abya Yala – tarefa complexa dadas as barreiras linguísticas e culturais, mas imprencisdível para se alcançar uma solidariedade continental que conecte os territórios em luta. Texto: Bruno Pedrotti.Fotos: Paulinho Bettanzos.