26° Carijo da Amizade

Entre 27 de setembro e 1 de outubro foi realizada mais uma carijada na Tekoa Yvyty Porã (Serra Bonita), em Riozinho/RS. O mutirão conjunto entre a rede de apoiadores articulada pelo Sitio da Amizade e a comunidade guarani produziu coletivamente um total de 33 kilos de erva mate nativa das matas da aldeia.

Under The Shadow, um podcast indispensável

Infelizmente é em inglês, ou seja, ainda com acesso restrito ao público daqui, do continente médio e sul-americano. Mas conta a nossa história. A primeira temporada é sobre a Doutrina Monroe, do direito imperialista inventado de se manter a América para os estadunidenses, falaciosamente protegendo-a do neocolonialismo europeu. Um pacto de dominação que varreu por décadas as repúblicas do Caribe – Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá – e El Salvador, empilhou corpos e deu vez a diversas ditaduras sanguinárias como que se mantivesse um quintal agroexportador exclusivo aos yankees – entre outras coisas, claro. Essa doutrina completou 200 anos, e o jornalista estadunidense Michael Fox, dando sequência em uma parceria de muitos anos, trouxe a série para ser trabalhada com o Coletivo Catarse, que realizou checagens de fatos e toda a produção de som (edição e desenho). Ao longo de 13 episódios (alguns com 2 partes) e materiais bonus, é possível entender como a política do expansionismo dos Estados Unidos, baseada em ideologia e com fins econômicos, literalmente destroçou uma área paradisíaca do continente americano. Numa troca de mensagens realizada em setembro, realizamos uma conversa com Mike, perguntando de onde teria vindo a ideia de realizar o Under The Shadow, como que ele executou o trabalho e se haverá uma segunda temporada. Além de questionarmos a relação da nacionalidade estadunidense dele na exposição de tamanho mal causado por seu país – que segue até os dias de hoje. Michael Fox: “Oi Gustavo, tudo bem? Estou no interior, no norte da Argentina, na província de Santiago de Estero. Tivemos problemas com nosso carro, ficamos acampados num posto de gasolina e, agora que arrumamos amigos, uma família argentina que nos convidou para ficar na casa deles… Eu vou até fazer um show de violão e muito violino. Cara, eu nem sei o que está acontecendo mais. Essa é a vida na estrada fazendo esse podcast. Eu estive no Paraguai agora, já trabalhando na segunda temporada, em Assunção, onde tem o Arquivo do Terror, que são documentos que foram achados em 92, que comprovam que existia o Plano Condor. Esses são documentos que darão base para a temporada dois, que é sobre América do Sul e, em particular, o Plano Condor, que foi organizado pelos Estados Unidos. Eu estive num lugar de memória em Assunção, que é o Museu da Memória. Ali que é um centro de assuntos técnicos da polícia. Mas ali era um lugar de detenção, das pessoas. Tinha celas atrás, uma prisão, que ainda existe. E era um lugar de tortura, cara. E quem ensinava como torturar era um gringo. Os documentos mostram que este cara esteve lá por dois anos, de 56 a 58. O gringo tinha um escritório do lado da sala de tortura. Ele estava lá para ensinar exatamente isso. Então, esse é o nível, e estamos falando sobre… Voltando lá nos anos 50. Então, sim, vai ter a temporada dois. Sim. É muito importante a gente não esquecer essas coisas. E tua pergunta, o que significa pra mim, que sou cidadão norte-americano, que está fazendo isso… É que muito da população norte-americana não entende. Eles não sabem isso, não sabem essas histórias. Então, isso fica nos livros de história. Ficam em livros que ninguém lê, que só os acadêmicos sabem – ou seja, nem eu, nem a maior parte deles. Então, eu estou tentando fazer algo real. Estou tentando levar pessoas para os lugares para ver, para tocar, para sentir que eles estão ali. É algo que realmente eu tenho em mãos nesse podcast, uma ideia de que seja uma máquina do tempo. Eu sei que tu brinca com isso, cara. Com aquela coisa de Michael J. Fox, Back to the Future – afinal, esse é meu nome, né? Mas é essa ideia, eu quero levar quem ouve para os lugares que essas pessoas não podem ir. As coisas que os Estados Unidos têm feito são inimagináveis, e nós temos que compreender. Temos que contar essas histórias e temos que lembrar disso tudo na Centro-América e na América Latina. Eles falam muito sobre a memória histórica. Isso é resgatar as coisas ruins do passado para reconhecer no presente, para assegurar que nunca mais aconteçam, né? Isso é mais ou menos o que estou tentando fazer com esse podcast, mas contando em inglês para um público norte-americano. Primeiramente, para que entendam todo o mal que tem feito e segue fazendo o nosso governo. Essas não são coisas do passado, são coisas no presente! E é por isso que eu volto para o passado. E volto para o presente para contar o legado em cada caso. Como vimos na Centro-América, em Honduras, o legado terrível, mais profundo em cada lugar que entram os Estados Unidos. Cada lugar onde há ingerência, cada lugar onde eles geram um impacto… E o que temos, então? Uma enorme quantidade de imigração de pessoas indo para os Estados Unidos. A crise migratória da fronteira com o México, por exemplo, essa enorme quantidade de pessoas que estão viajando para lá, é tudo por causa do próprio papel dos Estados Unidos. As sanções ilegais internacionalmente dos Estados Unidos contra a Venezuela, por exemplo, é a razão do que está por trás da grande maioria da migração venezuelana que temos visto nos últimos anos. São cerca de 8 milhões de pessoas! Os Estados Unidos entraram e destruíram a economia brasileira. A venezuelana. Do mesmo jeito que destruíram a economia chilena, por exemplo, lá nos anos 70. Naquela época, justo antes do golpe contra Allende para destruir a economia. E eles fizeram no Chile a mesma história, né? Fizeram na Nicarágua nos anos 80 e fizeram na Venezuela, aqui, nos últimos anos. E assim é a realidade. 8 milhões de venezuelanos fugindo do seu país por causa do crime econômico e correndo para os Estados Unidos. Depois, os Estados Unidos chamam de crise migratória, mas nunca olham para seu próprio umbigo. E, bom, é meu próprio governo. E eu, como norte-americano, sinto a necessidade …

As sombras que encantam crianças

O palco aonde a Cia Lumbra encantou crianças das escolas públicas de Santa Maria é um bom lugar para histórias. O Theatro Treze de Maio foi inaugurado em 1890 e da janela dá pra ver as bancas e muita gente circulando pela praça em frente, na 51ª Feira do Livro municipal. É a segunda feira do livro mais antiga da América Latina (a primeira é a de Porto Alegre e a terceira é Buenos Aires). Com programação cultural diversa, na ensolarada tarde de uma quinta de setembro as sombras da literatura se transformaram em criaturas fascinantes e divertidas, com gritos de assombro e euforia do público infantil. Muito riso, um pouco de espanto e muita magia:

Uma feira para outro mundo possível e necessário

Dizem que durante os três dias da FEICOOP, Santa Maria se transforma na capital mundial da Economia Solidária. A Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária, que também é uma feira da agricultura familiar, está carregada com os ideais dos fóruns sociais mundiais, que aconteceram em Porto Alegre, a partir de 2001. Mas a FEICOOP iniciou ainda antes, em 1994. Além de movimentar a economia local, proporciona encontros e trocas, por meio de oficinas e de diversas atividades formativas e culturais, com pessoas vindas de vários lugares do Brasil. Um sentimento de pertencimento, de irmandade que aflora. Essa diversidade celebrada colabora para construir um outro mundo possível, que nunca esteve tão necessário como agora, em que as mudanças climáticas ameaçam a continuidade de muitas formas de vida e de viver no planeta. Neste vídeo, conhecemos um pouco do trabalho e do que pensam participantes da 30ª edição da feira, que ocorreu em julho desse ano:

Juçaras em movimento

Ao longo do último fim de semana, seguiu a diáspora das juçaras em busca de novas florestas. Aproximadamente 50 mudas da palmeira, espécie-chave da Mata Atlântica, foram resgatadas de uma área de mata de manejo do sítio dos Nicolaidis Cardoso (em Triunfo/RS) para integrar o viveiro e “centro de distribuição” na Comuna do Arvoredo, no centro de Porto Alegre – um local já clássico da resistência agroecológica em área urbana.

Ratos de Porão em Porto Alegre

No último dia do mês de agosto a clássica banda Ratos de Porão se apresentou em Porto Alegre o no Bar Opinião, clássica casa de shows da capital gaucha.Foi uma noite quente e bem barulhenta, com uma energia e “alegria” na banda que é raro de se ver.Confira algumas fotos realizadas por @billy.valdez e na sequencia link para o álbum completo. https://photos.app.goo.gl/Aww9GfL8jmAhwo8Y7

Uma festa punk! Show de 40 anos da banda Os Replicantes

Aquela cobertura colaborativa com pessoal da Scream & Yell, desta vez para registrarmos a linda noite do dia 15 de agosto, quando aconteceu o show de celebração dos 40 anos da banda Os Replicantes. Uma legítima e linda “festa punk”, que lotou o Bar Opinião em Porto Alegre. Confira um trecho do texto de Homero Pivotto Jr.E, clicando na imagem, tenha acesso ao texto completo de cobertura. Confira algumas fotos por Billy Valdez.(aqui o álbum completo)

Ele voltou! E vai para a 2ª Carijada Serrana em São Chico

Após algumas semanas aos cuidados do amigo e médico veterinário Fabio Haussen, que o resgatou das águas da enchente do Rio Taquari – que acometeu sua morada em Triunfo -, o soque de erva-mate do Coletivo Catarse passou por uma “internação” nas mãos do marceneiro Juca Rocha, ali mesmo, no bairro Olaria, e… voltou a funcionar! Depois desse processo de recuperação, deve chegar em São Francisco de Paula um dia antes da carijada marcada para passar por uma limpeza profunda e ajustes finais, quando ficará à disposição para voltar a bater erva novamente. Esta que será a 2ª Carijada Serrana do Caconde, já contando com muita gente inscrita e que vai ocorrer entre os dias 26, 27 e 28 de julho. Um evento que marca também os 20 anos do Coletivo Catarse e os 10 anos do lançamento do documentário Carijo! Para mais informações, clique aqui e leia a matéria original de divulgação da carijada. Confira mais imagens da recuperação do soque, que passou (e vai passar mais um pouco) por troca e limpeza de rolamentos – da estrutura de madeira e do motor (que ficou uma semana embaixo da água e voltou a funcionar!) -, limpeza e refeitura do cocho da erva-mate, afiação das lâminas, mais uma desinfecção e lubrificação geral. *Texto de Gustavo Türck e fotos e vídeo de Bruno Pedrotti e Billy Valdez.

Em 2024, o maior desafio da chapeuzinho vermelho não é o lobo mau, mas uma plateia cheia de pré-adolescentes

Numa tarde de segunda-feira, no Teatro São Pedro, aconteceu sessão da peça Chapeuzinho Vermelho, uma adaptação de premiado texto de Joël Pommerat, realizado pelo Projeto GOMPA. Na sinopse, há a menção de que a releitura contemporânea traz à tona uma espécie de “iniciação ao medo”. E é verdade! Só que… Não só ao medo para pequenas crianças, que estavam presentes aos montes – e que adoraram, mesmo que algumas tenham sido retiradas da plateia no colo nos sustos óbvios que viriam do lobo mau. Totalmente natural, reações normais e certamente esperadas, que não prejudicam em nada a proposta do espetáculo. Agora… Para pais e mães de pré-adolescentes – como este que escreve e aquela que tirou as fotos desta resenha – a sessão foi de tremenda tensão. Meninas e meninos impassíveis, impossíveis de ficarem em silêncio ou sentadas quietos por mais de uma dezena de minutos, conversas, cochichos, deboches de todos os lados, caras de nojo e uma pífia participação afogada pela grande interatividade dos pequenos, que cantaram antes, assustaram-se durante e aplaudiram depois. Apenas no ápice da linguagem metafórica apresentada pela peça, de forma muito inteligente, a trazer os perigos dos “lobos maus” da vida real, com frases do tipo “deita aqui”, “vem para baixo do cobertor” e “eu vou te comer” – totalmente coerentes com as interpretações e contextos -, a reação uníssona da turba dos 12, 13 anos, que tomou conta sobre todas as vozes, foi de chiste, de onomatopéia gracejosa, nada grave. O que faz gerar isso? Por que para os pequenos o medo do lobo mau foi evidente, de pulos em cadeiras, gritos de espanto, mas para as meninas e meninos no limiar da puberdade foi de humor sexualizado? Há muitos aparelhos ligados procurando redes roteadas acessando informações descontroladas por pessoas jovens sem limitações – porque pode ser, inclusive, impossível. A sensualização da inocência está aí, a cada clique, em cada som, nas imagens que minha filha de 10 anos, por exemplo, já acessa em seus dispositivos com certo controle. É muito difícil – e vai ficando pior com o que vem acontecendo no compêndio ideológico-legal em disputa no Congresso e nas ágoras do poder brasileiro. E isso complica a luta contra o abuso, contra a violência sexual em crianças e adolescentes. Pode, invariavelmente, confundir a mensagem. Me apavorei. Mas também me encantei. Talvez um bom público-alvo para esta obra seja exatamente o de pessoas com um hiato etário, evitando-se pessoas dos 12 aos 18 anos, trabalhando-se as pontas para melhorar a compreensão no meio – e não por causa do texto trabalhado de forma excelente pelos autores, mas pela conjuntura da nossa atualidade. E pais e mães – sozinhos – também precisam acessar essas metáforas, também precisam se identificar nos papeis da mãe, da vovó e, sim, do lobo. E devem consumir arte. O Projeto GOMPA fez um trabalho impecável. De atuação e narrativa, de composições com um minimalismo de cenário que enchem o palco – e de um trabalho de luz e sombras fenomenal. Envolve a plateia, pega o palco italiano, de contemplação, e joga na vivência, traz a dança e a singeleza de movimentos concatenados que transformam um aparato de metal em casa, cozinha e covil. Próxima vez que aparecer por aí, não perca! Texto: Gustavo Türck / Fotos: divulgação (capa) e Têmis Nicolaidis (internas) A apresentação dessa segunda-feira, 15 de julho, fez parte do 3º FESTECRI (Festival de Teatro para Crianças). Sinopse:Vencedor de 24 prêmios e com mais de 65 indicações, incluindo o Troféu CENYM 2019, pela primeira vez no Brasil é encenado o texto Chapeuzinho Vermelho de Joël Pommerat, um dos nomes mais relevantes da dramaturgia contemporânea mundial. Com linguagem híbrida, que mescla teatro, dança e música, o espetáculo dirigido por Camila Bauer é uma experiência que encanta crianças e adultos, com uma proposta de distintas camadas de percepção. O texto de Joël Pommerat, reconhecido por suas narrativas líricas e instigantes que, nesta obra, traz à tona uma espécie de “iniciação ao medo”, como o autor mesmo define, em que a criança se depara com os riscos e, ao mesmo tempo, o fascínio pelo desconhecido representado pela estrada – ou, metaforicamente, a própria passagem da vida infantil à adulta. Classificação etária: 7 anosDuração: 55 minutos EquipeTexto: Joël PommeratTradução: Giovana SoarDireção: Camila BauerElenco: Fabiane Severo, Guilherme Ferrêra, Henrique Gonçalves e Laura HickmannDireção coreográfica: Carlota AlbuquerqueComposição e desenho sonoro: Álvaro RosaCostaPreparação vocal: Luciana KieferCenografia: Élcio RossiniFigurino: Daniel LionIluminação: Thais AndradeMaquiagem: Luana ZinnCriação e confecção de máscara: Diego SteffaniCriação e confecção de gobos: Pedro LunarisIdentidade visual: Jéssica BarbosaFotografias: Adriana MarchioriTeasers: Camino FilmesPsicólogos colaboradores: Sahaj, Camila Noguez e Pedro LunarisProdução: Projeto Gompa e Rococó Produções Artísticas e CulturaisRealização: Projeto GOMPA