Fortalecendo comunidades : Quilombo Vila Nova

Nos dias 20 e 21 de fevereiro, o Coletivo Catarse esteve junto de uma equipe de pesquisadoras parceiras do Núcleo de Estudos de Geografia e Ambiente da UFRGS (NEGA/UFRGS) no Quilombo Vila Nova, em São José do Norte/RS. A saída faz parte do trabalho do projeto “Quilombo Vila Nova : organização e soberania na defesa do território” que recebeu apoio do Fundo Casa Socioambiental.

Povos em luta fecham a BR 386

No entardecer do último sábado (20/01/24), o trecho próximo ao KM 410 da BR386 (no distrito de Vendinha, entre Montenegro e Triunfo, região metropolitana de Porto Alegre) foi interrompido pelo ato Parada da Légua. Atendendo ao chamado amoroso e solidário da Comunidade Kilombola Morada da Paz – Território de Mãe Preta (COMPAZ), mais de cem pessoas, do Fio de Contas de Mãe Preta CoMPaz, Teia dos Povos/RS e diversos outros Territórios compuseram o ato contra a ampliação da BR. Além dos impactos ao território, a comunidade denuncia a falta de consulta prévia livre informada e de boa fé.

Saberes Kaingang na Sala Redenção

Na última quinta, 15 de novembro, o cinema da Sala Redenção, no Campus Centro da UFGRS, exibiu 5 filmes da série “Saberes Indígenas na Escola – núcleo UFRGS Kaingang”. Realizada pelo núcleo Saberes Indígenas da UFRGS e pelo Coletivo Catarse em 2023, completando uma década da ação de extensão, esta série traz temas geradores para debate nas salas de aula das aldeias. Cada um dos temas foi escolhido pela própria comunidade que recebeu a gravação, sendo as entrevistas na língua Kaingang, com os próprios professores indígenas das escolas dialogando com os mais velhos e mais velhas. No projeto, o audiovisual entra como parte do material didático desenvolvido para a educação escolar indígena – que será lançado dia 27 do mesmo mês no Museu da UFRGS – em um esforço de docentes indígenas e não indígenas para sistematizar uma base que permita que cada povo tenha um ensino escolar diferenciado segundo sua cultura. Depois dos filmes, foi feita uma conversa com Lucas Penido, da equipe dos saberes, as indígenas Kaingang Vera Kaingang e Sueli Krengre e Gustavo Türck, da equipe do Coletivo Catarse. Além falar sobre o processo de produção, foram levantados alguns dos fatores que levaram a decisão de exibir os filmes no idioma originário e sem legendas, fazendo da sessão uma das poucas – se não a primeira – sem suporte ao português no espaço. Para alívio da curiosidade dos fog (não indígenas) presentes, a tradutora, professora e antiga orientadora do Saberes, Sueli Krenge, contou no idioma do colonizador um pouco do que foi conversado nas aldeias. No encarramento da sessão – que integrou a mostra “Sabedorias – Arandu – Kanhgág Kajró Pẽ” -, foi feito o convite para a exposição de mesmo nome. Com abertura na próxima segunda (27/11), às 10:30, a exposição no Museu da UFRGS (Av. Oswaldo Aranha, 277, Porto Alegre/RS) em comemoração aos dez anos da Ação Saberes Indígenas na Escola – Núcleo UFRGS pode ser visitada de segunda à sexta, das 9 às 18 horas. Estarão expostos os materiais didáticos nas línguas originárias, incluindo os materiais audiovisuais e impressos. Texto e fotos: Bruno Pedrotti.

Imagens de luta: 1 ano da Retomada Gah Ré

Cansados de viver espremidos nas periferias, há pouco mais de um ano, familías Kaingang e Xokleng retomaram um território no Morro Santana. O terreno na zona leste de Porto Alegre, das capitais mais verticalizadas do Brasil, tinha tudo para seguir o rumo de tantos outros na cidade: ser cercado por tapumes, virar canteiro de obras e por fim um conjunto a mais de prédios sufocando a terra e bloqueando a vista. Mas a luta mudou tudo. Ao invés de prédios, aldeia. No lugar de concreto, trilhas. Ao invés de cortar as árvores, foram plantadas novas mudas, roças e ervas medicinais. Não se gerou lucro para acionistas e especuladores do mercado financeiro e sim bem viver, dignidade e alegria para famílias, amigos e parentes. Contra todas as forças do sistema capitalista, a comunidade vem se mantendo no seu território a um ano. Conquista essa que merecia – e recebeu – uma grande celebração. Entre os dias 2 e 5 de novembro, foi comemorado o aniversário da retomada, com apoio da Teia dos Povos, articulação nacional de luta por terra e território. Mais do que “somente” festejar, o evento foi organizado para potencializar a comunidade, com mutirões de construção e plantio, trilha, encontros culturais e fortalecimento de redes de apoio e solidariedade. A nós do Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre coube mostrar algumas imagens representativas do que o território passou. Com as fotografias do Deriva Jornalismo, Santiago e da própria juventude da retomada – registradas no processo do oficinas com nosso coletivo viabilizado pela Witness – montamos uma exposição no sábado dia 4 de novembro. Junto da exposição de fotos, também organizamos um cinema na aldeia. O barracão de lona, espaço importante de convivência, deliberação e aprendizado, tornou-se também sala de cinema, com o calor do fogo aquecendo o ambiente. Entre as opções de vídeos selecionados para a exibição não houve dúvida sobre qual seria o primeiro: “Resistir para cuidar da Mãe Terra“, registro da entrada da comunidade no território, cerca de um ano atrás. Após o filme, Gah Té fez uma fala reforçando a intenção de reflorestar o Morro Santana, convidando aos presentes para o mutirão de plantio que seria realizado no dia seguinte (domingo, dia 5). A sessão seguiu com mais um vídeo sobre a retomada que circulou no Instagram, o Dossiê sobre a Família Maisonava da Federação Anarquista Gaúcha (FAG) e o vídeo “Araucária Milenar e os Ensinamentos Xamânicos“, no qual o coletivo por meio do projeto Resistência Kaingang registrou um ritual da Kuja Gah Té com seu sobrinho e aprendiz de xamã Doka aos pés de uma Araucária Milenar em Mangueirinha/Paraná. O vídeo motivou Gah Té a compartilhar um pouco do valor que as Araucárias têm para o povo Kaingang com a comunidade de parentes e apoiadores que ouvia atenta envolta do fogo. Não por acaso, o filme seguinte foi o documentário Araucária, que cativou o público com suas belas imagens e animações dos animais que se alimentam os pinhões. E ver as imagens de pinhões cozidos, assados na grinfa, na chapa do fogão a lenha ou usados nas diversas receitas registradas no curta abriram o apetite dos presentes na sessão. Assim, foi se encerrando a sessão de cinema, com a chamada para o mutirão de preparo da janta. Terminado o cinema, o evento seguiu sua dinâmica coletiva de celebração e trabalho. Na mesma noite, música, dança, cantoria. No dia seguinte, trilha no Morro Santana e plantio de mudas nativas. Refletindo sobre o território e as diferentes fases pelo qual passou, foi possível perceber quantas conquistas no espaço curto de tempo. Algo que de fato se constatou foi que tamanho avanço não foi fruto de apenas o trabalho de algumas pessoas, e sim de uma articulação extremamente potente de outras aldeias, quilombos, assentamentos, grupos de capoeira, e diferentes grupos de pessoas que lutam por cidades com mais aldeias e menos prédios. Abaixo alguns dos nomes das coletividades envolvidas na construção desta festa. Agradecemos a oportunidade de participar e desejamos que venham muitos anos de vida para a Retomada Gah Ré e para a Teia dos Povos! Assentamento Carlos Marighella (SM), Quilombo Coxilha Negra (São Lourenço), Retomada Konhun Mág (Canela), Assentamento Filhos de Sepé (Viamão), Aldeia Por Fi Gá (São Leopoldo), Horta Vó Maria (Canoas), Comunidade Kilombola Morada da Paz (Triunfo), Raízes do Sul Capoeira Angola, Ação Antifascista Social, povo Palestino… Outros olhares:Deriva Jornalismo, DO TERRENO-Naturais&Artesanais, Retomada Kaingang de Canela Texto: Bruno PedrottiFotos: Luís Gustavo Ruwer, Billy Valdez, Marcelo Cougo, Deriva Jornalismo, Giulia Sichelero.

Foto de @mig_sa_camila

Curta sobre protagonismo de mulheres indígenas em produção para FLD/COMIN.

Foto destaque por @mig_sa_camila. Três mulheres kaingang de diferentes gerações e que vivem no Paraná são as personagens que conduzem o enredo do minidoc que o Coletivo Catarse está produzindo para o FLD/COMIN.O vídeo é uma parceria também com a rede de comunicação Olhares Indígenas. As filmagens aconteceram em agosto na aldeia Kakané Porã, em Curitiba, e no mês de setembro na III Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, que teve como tema Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade e pelas Raízes Ancestrais. O evento reuniu aproximadamente oito mil indígenas de diferentes povos, territórios e biomas, e foi promovido pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Nesta etapa de filmagem quem esteve a frente nos registros foi o cooperado Billy Valdez, que alem de produzir as filmagens para o curta, fez alguns registros fotograficos que pode ser conferido na galeria a baixo. O cotidiano nas aldeias e sua conexão com elementos da natureza, em especial, as araucárias, o apoio e o cuidado entre as mulheres indígenas e suas lutas por direitos são os principais temas do documentário. Em fase de edição, o documentário, que terá também legendas em inglês, deve estar pronto em novembro. Galeria de fotos da III Marcha das Mulheres Indígenas.Fotos de @billy.valdez

Coletivo indígena Mbya Guarani retoma território tradicional e pede demarcação de terra em São Gabriel

Leia abaixo carta do Coletivo Guarani Mbya do Tekoa Jekupe Amba. Fotos: Junior Moraes Carta do Coletivo 06 de outubro de 2023, Tekoa Jekupe Amba, São Gabriel-RS Nós, coletivo de indígenas da etnia Guarani Mbya moradores do Tekoa Jekupe Amba, em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, em área de retomada – anciãos, adultos e crianças representados pelo cacique Vherá Poty – todos falantes da língua materna Guarani Mbya, viemos por meio desta carta solicitar providências imediatas por parte dos órgãos competentes, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Ministério Público Federal (MPF) e Ministério dos Povos Indígenas (MPI) para a demarcação. Pedimos ainda a todos os outros órgãos competentes atenção aos direitos dos povos indígenas da retomada Jekupe Amba no município de São Gabriel, Rio Grande do Sul. Poder viver nessa região era o sonho de um casal de anciãos, nossos avós, de nome guarani Vhera Xunu, seu Marcolino da Silva, e Pará Mirim, Dona Florentina Fernandes. Esse também continua sendo o sonho de muitos outros anciãos de outros lugares. Nossos avós, no ano de 2016, nos deixaram sem ver os seus sonhos e desejos se realizarem, que era viver em uma aldeia na região de São Gabriel onde sempre foi um lugar de convivência e pertencimento de nossos antepassados. Anos depois foram seus filhos, meus pais, que em suas conversas solicitaram a mim, que eu fosse realizar esse sonho dos nossos avós, que sempre tinha sido sonho de todos o tempo todo, por pertencermos aos povos que na região viviam e de muitos que foram massacrados no processo de guerra que houve na região. Desde então decidimos ocupar um lugar onde sempre foi e será o nosso lar, estamos continuando nossa história vivendo em um lugar onde sempre nos pertenceu e nos pertencerá. Nossa história deve ser respeitada, escrita e contada por nós, através da nossa presença e prática de tudo que nos faz ser Guarani, povo originário deste território. Nessa região onde é considerado como terra do líder guarani Sepé Tiaraju, e que também é comprovada através de estudos, e também pelos mais velhos, os próprios Guarani, que é um território de ocupação de nossos ancestrais, onde também houve muitas guerras e massacres de muitos povos indígenas, inclusive onde o líder Guarani Sepé Tiaraju foi assassinado e onde até hoje tem uma estátua e o local onde ele tombou. Por toda uma questão histórica e de reconhecimento por parte do nosso povo como um lugar sagrado, nós coletivo com apoio e acompanhamento de outros caciques do estado estamos aqui reivindicando uma área localizada dentro do município que está desocupado. O nosso sonho é viver nessa aldeia onde possamos ter o nosso espaço de convivência coletiva, viver de acordo com nossa cultura e, através dela, sempre se comunicar com as políticas externas de modo equilibrado, sempre protegendo nosso modo de vida e nossa compreensão de mundo. Construindo nossa OPY, casa tradicional de ritual, e assim praticar e fortalecer o nosso modo de vida que sempre foi e será a nossa fortaleza, o Mbya reko, modo de ser Guarani. Assim finalizamos essa carta de reivindicações e aguardamos a resposta. Abaixo assinamos todos do coletivo. Coletivo Guarani Mbya do Tekoa Jekupe Amba

Frutos de resistência – Marcha das mulheres indígenas pelas lentes da Retomada Gah Ré

Em abril deste ano, pouco antes do Acampamento Terra Livre, a mulher araucária Gah Té plantou uma semente: “precisamos de oficinas para que a juventude da comunidade possa cobrir a ‘III Marcha das Mulheres Indígenas – Mulheres Biomas em defesa da Biodiversidade”. Setembro chegou trazendo os frutos: a juventude da retomada participou da marcha entre os dias 11 e 13 com a câmera em punho, registrando sua luta do seu próprio ponto de vista.

Oficina de fotografia na Retomada – dia 19 de agosto de 2023.

Dando continuidade à nossa formação em fotografia com jovens da Retomada kaingang Gãh Ré realizada com apoio da Witness Brasil, fui buscar o pessoal no Morro Santana. Lá deixei algumas instruções para Van Fej, que ia viajar com sua vó, Gãh Té, para Nonoai. Essa viagem ia ser a primeira da jovem como “fotógrafa” das atividades da Cacica. A nossa outra oficinanda, Fran, estava apoiando o trabalho de sua mãe com artesanatos. Desse modo fomos eu e Jonas rumo ao Centro, primeiro na Catarse, buscar equipamentos, e depois ao museu Júlio de Castilhos, onde estava tendo a Virada da exposição com coleções fotográficas indígenas no espaço Memória e Resistência. Nesse momento tivemos a companhia do Billy Valdez, fotógrafo do Coletivo Catarse. A visita por todos os cantos no museu rendeu várias fotos legais e pudemos seguir nossa oficina na prática. Depois, voltando para a sede da Catarse, foi o momento de aprender a baixar os arquivos no notebook e voltar pra Retomada, não sem antes deliciarmo-nos com um belo Xis coração de almoço! abaixo, algumas das imagens captadas por Jonas Durante a atividade. Texto: Marcelo CougoFotos da Oficina: Marcelo Cougo e Billy Valdez.

Na Trilha das Andarilhas pelas lentes da Retomada Gah Ré

Seguindo as oficinas de fotografia com a juventude Kaingang da Retomada Gah Ré com apoio da Witness Brasil, a função dessa vez foi no Centro de Porto Alegre. Acompanhar a peças “Na Trilha das Andarilhas”, do Quilombo do Sopapo dirigido pelo bonequeiro Leandro Silva, foi uma experiência muito impactante, tanto esteticamente como pelo discurso forte que ecoou pela Praça do Tambor e arredores. Uma oportunidade para o grupo de oficinandos ver e registrar a arte popular feita nas ruas, pelo povo e para o povo. Os bonecos gigantes da Trupi di Trapo, a música, tudo foi motivo de encantamento e observação cuidadosa pois, afinal, estávamos em “aula”. Uma aula de cidadania. Oportunizar aos jovens essa experiência foi muito legal! Mas também foi muito importante transitar portando máquinas modernas e manter o olhar atento ao que nos cercava. No final fomos toda turma comer uma deliciosa pizza no Mariamaria Espaco Cultural Aguardamos a próxima! Texto: Marcelo CougoFotos: Vanfejj, Jonas e Fran.

Ciclo Audiovisual de Impacto Social, com Vitor Ribeiro, em Porto Alegre

No inicio do mês de agosto recebemos o Vitor Ribeiro, video ativista e articulador da Witness Brasil, para uma sequência de encontros sobre o uso do vídeo como ferramenta de defesa de direitos e territórios. O primeiro encontro foi na noite de 4 de Agosto na sede do Cirandar, ponto de cultura com sede no Centro de Porto Alegre. Além de contar um pouco de sua trajetória no audiovisual, o documentarista, oficineiro multimidia e articulador social também trouxe um pouco da sua vivência na produção do filme a Rota da Canoa, junto da comunidade Caiçara de Piratininga, em Niterói/RJ. Um dos fundadores da Bombozila – maior plataforma brasileira de documentários online -, Vitor também trouxe dados importantes sobre os Streamings independentes. De acordo com o oficineiro, o Brasil é um dos países com mais plataformas independentes, tendo iniciativas voltadas para diferentes públicos batalhando pela diversidade nas telas, como Todes Play, Hands Play, Tela Trans, Amazonia Flix, entre outras. Ao final foi realizada uma exibição de curtas e bate papo. Na manhã do dia seguinte, o oficineiro carioca esteve junto dando sequência à série de oficinas de fotografias que estão sendo ministradas pelo Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre junto à jovens da Retomada Gãh Ré com apoio da Witness Brasil. Nessa ocasião, além de exercícios práticos de vídeo com o celular e exibição de filmes, tivemos a oportunidade de acompanhar nosso parceiro (oficinando do projeto CORAL), Vitor Ramón, compartilhando seu conhecimento com Vân Fejj, jovem kaingang, que está sendo preparada para registrar as atividades da Retomada. Ao final, um churrasco e a ida dos participantes para a I Carijada Kaatártica – importantes momentos de articulação e fortalecimento dos laços. texto e fotos: Marcelo Cougo e Bruno Pedrotti.